segunda-feira, 16 de agosto de 2010
só a palavra incompleta extravasa o limite do texto. por cada frase estilhaçada mil palavras apontam milhões de possibilidades. é necessária a palavra que desequilibre, elemento subversivo que retira o sentido imediato para criar um novo mundo. utópico em relação ao tempo social. ligação ao "temporal". a palavra impossível na realidade social, sugere o milagre.
eu sou a palavra. negação e afirmação do gesto. movimento sublime. inscrevo-me em texto. palavra só. não linear. não
narrativo. não contextualizado.
sem ritmo. ainda oscilante. ainda ofegante.
propulsor de mim mesmo.
eu sou a palavra.
eu sou o caminho para chegar e sair de mim.
caminhar em direcção do nada.
abandonar a primeira pessoa do singular e ser plural.
regressar.
abandonar a terceira pessoa
do plural e ser único.
ser.
palavra que gera nada.
narrativo. não contextualizado.
sem ritmo. ainda oscilante. ainda ofegante.
propulsor de mim mesmo.
eu sou a palavra.
eu sou o caminho para chegar e sair de mim.
caminhar em direcção do nada.
abandonar a primeira pessoa do singular e ser plural.
regressar.
abandonar a terceira pessoa
do plural e ser único.
ser.
palavra que gera nada.
sexta-feira, 5 de março de 2010
Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como os amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca
- Mário Cesariny -
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como os amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca
- Mário Cesariny -
quarta-feira, 3 de março de 2010
dependente da imagem. não conseguir escapar dela. do dia activo à noite onírica, tudo é escape ao silêncio da treva, da não-imagem.
dissipadas as imagens exteriores restam as interiores, o indivíduo que as possui.
quando eliminadas as interiores, surge nada.
não ter, não desejar.
temer o nada, esta é a raiz da ilusão.
o gesto aniquila o gesticular.
movimento anula o gesto.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
it's alright to want more than this
estar só tem que ver com: ter quase sempre alguém por perto quando é preciso, quase nunca ter alguém por perto quando é desejado. o processo decorre: tomada de consciência do eu, do único. não sobram registos, o que me entristece. é um processo de leitura, não de escrita. a leitura abre o que a escrita encerra. a caminho de qualquer parte surge a sensação de isolamento, do sempre estar a sós com as coisas mais importantes - eu e a minha crescente felicidade, eu e a minha desolação por isto e por aquilo. a necessidade de consolo é impossível de satisfazer mas não é impossível de desaparecer, enquanto necessidade. todo o consolo vem armadilhado. a escrita de franny tem que ser do género diarístico - pessoal, na busca, na espera, no exercício. ainda não é isto.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
É então que um grande silêncio cai sobre os trinta quilómetros da ilha. Ou vem das coisas, do interior das coisas. É um silêncio extremamente doce, um equilíbrio supremo. A ilha adquire uma grave e grandiosa imobilidade. E a luz entra e sai pelas coisas, como se elas fossem esponjas. As mãos ficam muito nuas. É dos olhos que primeiro desaparece o sono. E da boca. De cada parte do corpo, lentamente, de todas as partes, até que as pessoas se abram totalmente. Como numa ressurreição.
- Herberto Herberto -
- Herberto Herberto -
sábado, 2 de janeiro de 2010
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
a erosão não é um eros muito grande
(dizer que te amo é dizer que estou disponível para te amar esperando que os dias e os meses mudem o sentido definitivo da palavra)
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
vim sentar-me para escrever
a mãe equilibrava o amor
avaliando o risco
de afogamento
quando mudamos de casa dizem-me
são seiscentos quilómetros
dez horas de viagem
*
na cidade vai nevando
sou feliz não há mar estou sentada
a minha mãe
*
sei que
ninguém morre para que ninguém tenha de escolher
avaliando o risco
de afogamento
quando mudamos de casa dizem-me
são seiscentos quilómetros
dez horas de viagem
*
na cidade vai nevando
sou feliz não há mar estou sentada
a minha mãe
*
sei que
ninguém morre para que ninguém tenha de escolher
não sei se te lembras disto
Há uma história de um gato e um rato que tiveram um filho. Do desastre que se lhe seguiu nasceu uma criança. O rato, fugiu. O gato saiu à caça. A criança foi a única que não pôde fazer nada.
Há um animal que se chama ónagro. Também pode ter filhos.
O meu avô era marinheiro. Morreu debaixo de um comboio.
A minha avó criou a minha mãe debaixo dos carris que lhe arruinaram a graça, que é como quem diz, pancadaria subterrânea.
Não sei como é que a história avançou até ao voo do meu perfume que
de rajada
se estilhaçou na parede.
Há um animal que se chama ónagro. Também pode ter filhos.
O meu avô era marinheiro. Morreu debaixo de um comboio.
A minha avó criou a minha mãe debaixo dos carris que lhe arruinaram a graça, que é como quem diz, pancadaria subterrânea.
Não sei como é que a história avançou até ao voo do meu perfume que
de rajada
se estilhaçou na parede.
[é o ponto de partida]
vim sentar-me para escrever
ouve, posso comprar qualquer outra coisa que te faça falta
maçãs e regressar
desejando claro que o dia te seja limpo e tempo de preparação: 5 minutos
grau de dificuldade: muito baixo pequeno-almoço na sala
título no canto, ao guardanapo:
maçãs e regressar
desejando claro que o dia te seja limpo e tempo de preparação: 5 minutos
grau de dificuldade: muito baixo pequeno-almoço na sala
título no canto, ao guardanapo:
uma boa escritora querendo ser uma bela escritora
que não se atira
que não se suja
que não se coloca no meio do texto
que não se suja
que não se coloca no meio do texto
[é preciso, antes de mais, encontrar como primeiro destinatário o próprio poeta, que este seja belo ou não, que não faça diferença, que se dane a sintaxe, o leitor, o crítico, o avaliador; se eu sou o poeta, que não sou belo, que não sou bom, que se dane eu. é preciso, logo de seguida, nem sequer duvidar.]
vim sentar-me para escrever
exercício número um: trabalhar o que já existe.
o primeiro verso era título de um livro
o poema começava pelo que faltava
no texto ou no poeta
pão
ou
uma boa escritora querendo ser uma bela escritora
o primeiro verso era título de um livro
o poema começava pelo que faltava
no texto ou no poeta
pão
ou
uma boa escritora querendo ser uma bela escritora
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
sábado, 5 de dezembro de 2009
quando o texto te escreve. se inscreve. se instala. impele. assombra. quando te agarra e te atira contra o seu próprio corpo sólido. quando a caligrafia é o decalque do teu roteiro interior.
chegar a ti sem deixar pegadas.
não (te) voltes para trás.
trabalha o esquecimento.
sonha a árvore e devora avidamente o seu fruto.
deixa a última semente de realidade por comer.
quero construir uma casa comunitária.
mas como? quando dizes casa outro diz casa diferente.
é preciso ceder para o bem comum, dizes tu.
quero construir uma casa. cedo a cor (rosa, branca, azul), mas façamos uma casa confortável para todos que a nomeiam.
quando digo "confortável" não digo tapetezinho fofinho com dez centímetros de altura.
digo : toda a casa deve ter alicerces para não cair, telhado para abrigar.
construamos a partir daqui.
mas como? quando dizes casa outro diz casa diferente.
é preciso ceder para o bem comum, dizes tu.
quero construir uma casa. cedo a cor (rosa, branca, azul), mas façamos uma casa confortável para todos que a nomeiam.
quando digo "confortável" não digo tapetezinho fofinho com dez centímetros de altura.
digo : toda a casa deve ter alicerces para não cair, telhado para abrigar.
construamos a partir daqui.
que assim comece
Senhor, dá a cada um a sua própria morte.
Uma morte saída dessa mesma vida
em que ele teve amor, miséria e sentido.
[Rilke]
Uma morte saída dessa mesma vida
em que ele teve amor, miséria e sentido.
[Rilke]
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
se queres escrever porque não queres escrever?
se ousasse escrever também me escreveria
ocorre-me, antes de mais, a invocação de uma imagem: o corpo do texto, compacto, plástico.
estou a ler a besta de lascaux. fico a pensar no texto antes de ser texto: anterior e posterior à escrita. quero dizer - texto interior, desejo de texto, presságio do que será o texto. ["metatexto"?]
depois. o gesto, materializando o texto, ou fazendo-o jardim em letras de escrita, é um exercício: entro nele como aquele soldado que atravessa o território inimigo pensando que já morreu.
tento que a escrita percorra o essencial para que seja sempre futura. que o ímpeto presente concorra com a efervescência do que ainda não veio. como rené char: o poema é o amor realizado do desejo que permanece desejo. a escrita, sempre a vir, exposta sem garantias e sem certezas.
falo do que escrevo, partindo do que leio, porque acredito numa oração.
Se queres escrever, escreve-te.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
deitado no colchão finito da morte, abres os olhos do sonho, és o sonho, respiras, vives a tua vida de sonho, onde não há separação. um momento é o momento------------------------ligação entre o que sentes, ouves, o que te torna uno. escrever para sair do circuito da escrita. ouve, não fales. mantém o fervor passivo da não acção.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
terça-feira, 17 de novembro de 2009
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
bartleby
copiar repetir copiar repetir copiar repetir copiar repetir copiar repetir copiar repetir copiar repetir copiar repetir absorver espremer esvaziar absorver espremer esvaziar passivo espremer esvaziar absorver espremer esvaziar passivo passivo espremer esvaziar absorver espremer esvaziar passivo espera paciente espera paciente espera paciente espera paciente paciente espera paciente espera paciente espera paciente
NOITE BRANCA
escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer
ar escrever sreler ecitr reecopiquecer lar escriar crecitr citrar recoscer cerlar lequer arer opirer ar escrever sreler ecitr reecopiquecer lar escriar crecitr citrar recoscer cerlar lequer arer opirer escrever copiar ler reler recitar esquecer
ar escrever sreler ecitr reecopiquecer lar escriar crecitr citrar recoscer cerlar lequer arer opirer ar escrever sreler ecitr reecopiquecer lar escriar crecitr citrar recoscer cerlar lequer arer opirer
Nas cartas de Etty um poema de Rilke
Que farás tu, Senhor, quando eu morrer?
Sou o teu cântaro ( quando quebrar?)
Sou a tua bebida (quando azedar?)
Sou o teu manto, o teu ofício,
Comigo, não tens sentido"
Equilíbrio
Perceber que a palavra é criadora e destruidora de mundos.
E que apesar disso é só palavra.
Comer mastigar para que cada partícula faça proveito ao corpo andar pausadamente tornar cada tarefa útil e consciente de modo a viver fora de tempo ler tudo reler no dia seguinte ler com frescura o dia virgem momento limpo jejuar a cada momento a sua pureza ser constante ler no exterior escutar interior falar menos não falar em vão não escutar em vão tornar o gesto mais banal num canto sagrado desde o respirar ao adorar do pestanejar ao orar do amar ao afastar tudo fruto do pulsar sagrado movimento liberal não aceitar não recusar ser gentil e confortável/confortante cumprir toda a tarefa com nobreza
Escrever um texto
e deixá-lo abandonado na página.
Não voltar a lê-lo,
não o mostrar a ninguém,
não o mandar a nenhum lado.
Que fique no seu repouso de texto.
E deixar que aí encontre o seu leitor,
como todos os textos o encontram.
Também o que levamos escrito dentro
e nos parece impossível que alguém possa ler.
- Roberto Juarroz -
e deixá-lo abandonado na página.
Não voltar a lê-lo,
não o mostrar a ninguém,
não o mandar a nenhum lado.
Que fique no seu repouso de texto.
E deixar que aí encontre o seu leitor,
como todos os textos o encontram.
Também o que levamos escrito dentro
e nos parece impossível que alguém possa ler.
- Roberto Juarroz -
Homenagem e fome
sábado, 14 de novembro de 2009
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Tudo o que encontro já me foi dito por outro senhor
"Talvez a santidade, a partir do advento do moderno, tenha encontrado refúgio (asilo) na arte: no acto da arte."
- Pasolini -
- Pasolini -
sábado, 7 de novembro de 2009
Estudo do objecto
A velocidade assusta
Todas as mudanças de importância durável se realizam com lentidão.
- Maria Gabriela Llansol -
- Maria Gabriela Llansol -
The reaction of the labor of the mind upon the mind itself is so important that very often it deserves to be considered longer, more attentively than the labor or the product of that labor. The benefection...or the malefaction of this reactions is very frequentely more important than the leterary work itself. The byproduct is thus more important than the product. The efford expended by the poet and the poem interest me less than the subtleties and the enlightment acquired during the effort. And that is why one must labor over oneself. the poem will be for the others, that is, for the superficial quality, the initial shock, the effect, the expenditure, while the effort will be for myself- that is, for the duration, the continuation the profit, the progress...
- Paul Valéry -
- Paul Valéry -
Os três sabiam disso.
Ela era a companheira de Kafka.
Kafka a sonhara.
Os três sabiam disso.
Ele era o amigo de Kafka.
Kafka o sonhara.
Os três sabiam disso.
A mulher disse ao amigo:
"Quero que esta noite me queiras."
O homem lhe respondeu: Se pecarmos,
Kafka deixará de sonhar-nos.
Alguém soube disso.
Não havia mais ninguém na terra. Kafka disse a si mesmo.
Agora que os dois partiram, fiquei sozinho.
Deixarei de sonhar-me.
- Jorge Luís Borges -
sexta-feira, 8 de maio de 2009
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Da palavra à pele
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Como uma surpresa de Veludo
Variação Vinyoli
"Por que razão haveria de abrir os olhos,
se o que me rodeia já está dentro de mim.
Em vão perco o que em vão procuro.
Olhando sem olhar,
tocando sem tocar, ouvindo
sem que até mim chegue já som algum,
imóvel,
igual a uma pedra.
Pouco a pouco,
o oculto e o visível transformam-se num só
como o rio
e a sua sombra.
(E o silêncio
é escutar o coração de um anjo.)
Ponho à prova o presente:
o seu ponto de chegada sem chegada.
Pergunto-me quem sou,
quem és,
quem somos.
De pé , em frente ao abismo do silêncio,
começa outra noite."
- "Caixa Negra" - Josep M Rodríguez
"Por que razão haveria de abrir os olhos,
se o que me rodeia já está dentro de mim.
Em vão perco o que em vão procuro.
Olhando sem olhar,
tocando sem tocar, ouvindo
sem que até mim chegue já som algum,
imóvel,
igual a uma pedra.
Pouco a pouco,
o oculto e o visível transformam-se num só
como o rio
e a sua sombra.
(E o silêncio
é escutar o coração de um anjo.)
Ponho à prova o presente:
o seu ponto de chegada sem chegada.
Pergunto-me quem sou,
quem és,
quem somos.
De pé , em frente ao abismo do silêncio,
começa outra noite."
- "Caixa Negra" - Josep M Rodríguez
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Vida Secreta
terça-feira, 19 de agosto de 2008
do grande silêncio
"Queria escrever somente palavras organicamente inseridas num grande silêncio, daquelas cuja única utilidade é dominar o silêncio e rasgá-lo.
Se algum dia chegar a escrever gostaria então de pincelar algumas palavras num fundo mudo.
O importante será a relação justa entre palavras e silêncio.
As palavras deveriam servir para somente para dar forma e delineação ao silêncio.
E cada palavra é como um pequeno marco ou um pequeno relevo ao longo de infindáveis caminhos planos e extensos, e vastas planícies."
- "Diário 1941-1943"- Etty Hillesum
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Han Shan
Sobre a alta e inóspita montanha de
pedra
Encontrei meu lar.
Apenas os pássaros são encontrados neste caminho escarpado,
Os rastros das pessoas terminam aqui.
O que existe fora da minha cabana?
Nuvens brancas rodeiam as rochas
calmas.
Uma vida bela.
Ano após ano,
experiencio a mudança
De primavera a inverno.
Encontra-se para palestras
No salão principal.
A fama falsa certamente não é útil.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Acção sem movimento
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
sobre as perguntas como presságio
O ano passado questionavas-me sobre a idade em que as pessoas à nossa volta começariam a morrer... Lamento dizê-lo...mas já tenho resposta para ti... 29.
sábado, 2 de agosto de 2008
Último reduto
chego.
estou atrasado.
abro a porta, ponho o caixote para dentro, desço os dois degraus.
corro para o primeiro andar.
pego na loiça suja, desço as escadas, ponho a loiça na máquina.
passo a esfregona no chão.
arrumo os livros que tinham resistido a noite passada.
telefono.
falo.
digo piadas.
faço a caixa.
"não pares".
é preciso não parar.
tudo estava a correr bem.
vejo um comentário no blog e as pernas começam a perder as forças.
"sem plavras"
sigo os passos do comentário.
confirmo.
a morte está por todo o lado.
dou por mim sentado no chão.
cabeça suspensa.
já não consigo continuar.
esta semana, de uma forma atarefada,
próximos foram recolhidos.
de um único golpe de tempo.
e os meus braços vazios de um abraço.
estou atrasado.
abro a porta, ponho o caixote para dentro, desço os dois degraus.
corro para o primeiro andar.
pego na loiça suja, desço as escadas, ponho a loiça na máquina.
passo a esfregona no chão.
arrumo os livros que tinham resistido a noite passada.
telefono.
falo.
digo piadas.
faço a caixa.
"não pares".
é preciso não parar.
tudo estava a correr bem.
vejo um comentário no blog e as pernas começam a perder as forças.
"sem plavras"
sigo os passos do comentário.
confirmo.
a morte está por todo o lado.
dou por mim sentado no chão.
cabeça suspensa.
já não consigo continuar.
esta semana, de uma forma atarefada,
próximos foram recolhidos.
de um único golpe de tempo.
e os meus braços vazios de um abraço.
da música no teatro
1 de Agosto - Uma coisa em forma de assim
2 de Agosto – Groove Quartet
5 de Agosto - Baruk
6 de Agosto - Moi Non Plus
7 de Agosto – FunkOffAndFly
8 de Agosto - Jon Luz
9 de Agosto – Funky Touch
12 de Agosto - Marta Plantier e Luís Barrigas em “Free "Fucking" Notes”
13 de Agosto – Trio Bárbara Lagido
14 de Agosto - Funky Touch
15 de Agosto – YemanJazz
16 de Agosto – Open Source
P/Todos Entrada Livre
da arte como mistério da (re)criação
"Ensinam-nos que as primeiras crianças nascem da terra
e só depois surge o amor. Não sei se será verdade, porque
antes de nascerem as crianças nasce a terra e essa transporta
em si o amor que faz gerar todas as crianças. E não é
simples explicar isso, como se geram as crianças e o próprio
amor, muito singular em cada uma delas; o pensar
a génese, onde o brilhar dos astros se confunde com os
pequenos olhos de pérola escondidos na confusão da pele
e a questão se a carne virá do calor. Não sabemos. Mas para
explicar o amor usamos o verbo e esperamos que as palavras
se diluam um pouco dentro da carne dentro da terra. E hoje
ensinam- nos que a morte sai da terra e simetricamente o corpo
percorre o espaço até sentir que o verbo se esgota. E assim
sabemos tudo o que as palavras nos podem dizer sobre o
amor."
- Hugo Milhanas Machado -
e só depois surge o amor. Não sei se será verdade, porque
antes de nascerem as crianças nasce a terra e essa transporta
em si o amor que faz gerar todas as crianças. E não é
simples explicar isso, como se geram as crianças e o próprio
amor, muito singular em cada uma delas; o pensar
a génese, onde o brilhar dos astros se confunde com os
pequenos olhos de pérola escondidos na confusão da pele
e a questão se a carne virá do calor. Não sabemos. Mas para
explicar o amor usamos o verbo e esperamos que as palavras
se diluam um pouco dentro da carne dentro da terra. E hoje
ensinam- nos que a morte sai da terra e simetricamente o corpo
percorre o espaço até sentir que o verbo se esgota. E assim
sabemos tudo o que as palavras nos podem dizer sobre o
amor."
- Hugo Milhanas Machado -
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Ode a Virilio
da (a)literatura
- a literatura não existe como desbloqueador de conversa
- a literatura não existe para se pertencer a um grupo
- a literatura não existe como vaidade autista
- a literatura não substitui a vida ( mas existe como vida)
- a literatura não existe neste blogue
- a literatura existe
- a literatura não existe
- a literatura não existe para se pertencer a um grupo
- a literatura não existe como vaidade autista
- a literatura não substitui a vida ( mas existe como vida)
- a literatura não existe neste blogue
- a literatura existe
- a literatura não existe
terça-feira, 29 de julho de 2008
A Espera
Na mão direita uma surpresa.
A distração era tão harmoniosa que era sempre no último instante que evitávamos esbarrar contra o outro.
E era nesse segundo que espreitava a capa do livro.
E reconhecia-o.
Se me perguntassem como ele era, não saberia responder. Pelo menos dar aqueles traços gerais. Não existiam traços gerais.
Só um conjunto de pormenores que o tornavam impossível de reconhecer por outras pessoas.
Vejo um corpo franzino sustentado por duas vincadas patilhas; como duas molas de roupa mantinham a sua postura erecta mas sempre instável.
Uma espécie de Corto Maltese em que cada página é um passo, e o seu destino não ia além do próximo passo.
Por vezes encontrava-o nas arcadas a olhar o horizonte, e o horizonte não era mais que o prédio em frente. Os seus olhos não tinham fundo.
Então começámos a trocar cumprimentos discretos e aos poucos fomos falando.
Uma manhã a sua cabeça baixa foi o suficiente para o abordar.
Perguntei o que se passava.
-" Estou à espera."
Sabia o que esperava mas não o nomeava.
Dissse que normalmente a ausência não se fazia sentir com tanta intensidade, nem por tanto tempo.
Insuportável.
Só pedia um momento, por muito breve que fosse, mas novamente.
Esperava com paciência mas dorido, em sofrimento.
E a ausência nele, encheu-me.
Afastei-me.
O seu entregue ao seu momento.
A distração era tão harmoniosa que era sempre no último instante que evitávamos esbarrar contra o outro.
E era nesse segundo que espreitava a capa do livro.
E reconhecia-o.
Se me perguntassem como ele era, não saberia responder. Pelo menos dar aqueles traços gerais. Não existiam traços gerais.
Só um conjunto de pormenores que o tornavam impossível de reconhecer por outras pessoas.
Vejo um corpo franzino sustentado por duas vincadas patilhas; como duas molas de roupa mantinham a sua postura erecta mas sempre instável.
Uma espécie de Corto Maltese em que cada página é um passo, e o seu destino não ia além do próximo passo.
Por vezes encontrava-o nas arcadas a olhar o horizonte, e o horizonte não era mais que o prédio em frente. Os seus olhos não tinham fundo.
Então começámos a trocar cumprimentos discretos e aos poucos fomos falando.
Uma manhã a sua cabeça baixa foi o suficiente para o abordar.
Perguntei o que se passava.
-" Estou à espera."
Sabia o que esperava mas não o nomeava.
Dissse que normalmente a ausência não se fazia sentir com tanta intensidade, nem por tanto tempo.
Insuportável.
Só pedia um momento, por muito breve que fosse, mas novamente.
Esperava com paciência mas dorido, em sofrimento.
E a ausência nele, encheu-me.
Afastei-me.
O seu entregue ao seu momento.
Verde Paraíso
Estranha que fui
Quando vizinha de distantes luzes
Entesourava palavras muito puras
para criar novos silêncios
-Alejandra Pizarnik
Quando vizinha de distantes luzes
Entesourava palavras muito puras
para criar novos silêncios
-Alejandra Pizarnik
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Subscrever:
Mensagens (Atom)