quinta-feira, 31 de julho de 2008
Ode a Virilio
da (a)literatura
- a literatura não existe como desbloqueador de conversa
- a literatura não existe para se pertencer a um grupo
- a literatura não existe como vaidade autista
- a literatura não substitui a vida ( mas existe como vida)
- a literatura não existe neste blogue
- a literatura existe
- a literatura não existe
- a literatura não existe para se pertencer a um grupo
- a literatura não existe como vaidade autista
- a literatura não substitui a vida ( mas existe como vida)
- a literatura não existe neste blogue
- a literatura existe
- a literatura não existe
terça-feira, 29 de julho de 2008
A Espera
Na mão direita uma surpresa.
A distração era tão harmoniosa que era sempre no último instante que evitávamos esbarrar contra o outro.
E era nesse segundo que espreitava a capa do livro.
E reconhecia-o.
Se me perguntassem como ele era, não saberia responder. Pelo menos dar aqueles traços gerais. Não existiam traços gerais.
Só um conjunto de pormenores que o tornavam impossível de reconhecer por outras pessoas.
Vejo um corpo franzino sustentado por duas vincadas patilhas; como duas molas de roupa mantinham a sua postura erecta mas sempre instável.
Uma espécie de Corto Maltese em que cada página é um passo, e o seu destino não ia além do próximo passo.
Por vezes encontrava-o nas arcadas a olhar o horizonte, e o horizonte não era mais que o prédio em frente. Os seus olhos não tinham fundo.
Então começámos a trocar cumprimentos discretos e aos poucos fomos falando.
Uma manhã a sua cabeça baixa foi o suficiente para o abordar.
Perguntei o que se passava.
-" Estou à espera."
Sabia o que esperava mas não o nomeava.
Dissse que normalmente a ausência não se fazia sentir com tanta intensidade, nem por tanto tempo.
Insuportável.
Só pedia um momento, por muito breve que fosse, mas novamente.
Esperava com paciência mas dorido, em sofrimento.
E a ausência nele, encheu-me.
Afastei-me.
O seu entregue ao seu momento.
A distração era tão harmoniosa que era sempre no último instante que evitávamos esbarrar contra o outro.
E era nesse segundo que espreitava a capa do livro.
E reconhecia-o.
Se me perguntassem como ele era, não saberia responder. Pelo menos dar aqueles traços gerais. Não existiam traços gerais.
Só um conjunto de pormenores que o tornavam impossível de reconhecer por outras pessoas.
Vejo um corpo franzino sustentado por duas vincadas patilhas; como duas molas de roupa mantinham a sua postura erecta mas sempre instável.
Uma espécie de Corto Maltese em que cada página é um passo, e o seu destino não ia além do próximo passo.
Por vezes encontrava-o nas arcadas a olhar o horizonte, e o horizonte não era mais que o prédio em frente. Os seus olhos não tinham fundo.
Então começámos a trocar cumprimentos discretos e aos poucos fomos falando.
Uma manhã a sua cabeça baixa foi o suficiente para o abordar.
Perguntei o que se passava.
-" Estou à espera."
Sabia o que esperava mas não o nomeava.
Dissse que normalmente a ausência não se fazia sentir com tanta intensidade, nem por tanto tempo.
Insuportável.
Só pedia um momento, por muito breve que fosse, mas novamente.
Esperava com paciência mas dorido, em sofrimento.
E a ausência nele, encheu-me.
Afastei-me.
O seu entregue ao seu momento.
Verde Paraíso
Estranha que fui
Quando vizinha de distantes luzes
Entesourava palavras muito puras
para criar novos silêncios
-Alejandra Pizarnik
Quando vizinha de distantes luzes
Entesourava palavras muito puras
para criar novos silêncios
-Alejandra Pizarnik
segunda-feira, 28 de julho de 2008
O mundo pode parar
Hoje, no comboio fiquei deslumbrado com a emoção de uma criança na sua primeira viagem de comboio.
Devia ter cerca de cinco anos.
Francisco.
"Tão rápido, mais rápido que a televisão!"
E as imagens sucediam-se iluminando o seu rosto.
Os seus caracóis moviam-se em antecipação ao seu rodar entre o pai que o ignorava e o vidro que o duplicava, triplicava, multiplicava-o até a viagem não ter mais destino.
O pai por certo preferia a velocidade das imagens televisivas.
Isso diminuia-o.
Não compreendia o espanto daquele que ainda estava perto.
Lembrou-se do que disse o professor Júlio quando era pouco mais velho que o seu Francisco:
"A matemática é o degrau que permite ao homem espreitar o infinito".
Mas aos poucos os números que o rodeavam deixaram de transportar a magia de outrora.
"Agora, tudo tem um preço, independente do seu valor"
"Papá, papá!"
Tinham acabado de entrar no túnel.
Olhou no fundo dos seus olhos.
1+1=1
Reconheceu novamente a inocência dos números.
Devia ter cerca de cinco anos.
Francisco.
"Tão rápido, mais rápido que a televisão!"
E as imagens sucediam-se iluminando o seu rosto.
Os seus caracóis moviam-se em antecipação ao seu rodar entre o pai que o ignorava e o vidro que o duplicava, triplicava, multiplicava-o até a viagem não ter mais destino.
O pai por certo preferia a velocidade das imagens televisivas.
Isso diminuia-o.
Não compreendia o espanto daquele que ainda estava perto.
Lembrou-se do que disse o professor Júlio quando era pouco mais velho que o seu Francisco:
"A matemática é o degrau que permite ao homem espreitar o infinito".
Mas aos poucos os números que o rodeavam deixaram de transportar a magia de outrora.
"Agora, tudo tem um preço, independente do seu valor"
"Papá, papá!"
Tinham acabado de entrar no túnel.
Olhou no fundo dos seus olhos.
1+1=1
Reconheceu novamente a inocência dos números.
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