terça-feira, 17 de agosto de 2010




pai de palavra
disse o gerado:
minha mãe é filha
de sua maternidade



RECORDO O MEU PRESENTE.
HOJE, CONSTRUO A MINHA MEMÓRIA.




RECUSO UM ESTADO INCAPAZ DE SE APAIXONAR





o tempo sem acção é um peso morto




o som de uma mão em si mesma.
silêncio.
consequência sem causa


convém ao texto ser preciso na sua sugestão


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

a minha religião é o outro




arte não-objectiva. movimento consciente em si mesmo. sem função ou contexto. (ex: nadar sem destino e sem consciência da água).




só a palavra incompleta extravasa o limite do texto. por cada frase estilhaçada mil palavras apontam milhões de possibilidades. é necessária a palavra que desequilibre, elemento subversivo que retira o sentido imediato para criar um novo mundo. utópico em relação ao tempo social. ligação ao "temporal". a palavra impossível na realidade social, sugere o milagre.


eu sou a palavra. negação e afirmação do gesto. movimento sublime. inscrevo-me em texto. palavra só. não linear. não
narrativo. não contextualizado.
sem ritmo. ainda oscilante. ainda ofegante.
propulsor de mim mesmo.
eu sou a palavra.
eu sou o caminho para chegar e sair de mim.
caminhar em direcção do nada.
abandonar a primeira pessoa do singular e ser plural.
regressar.
abandonar a terceira pessoa
do plural e ser único.
ser.
palavra que gera nada.



este texto não pretende unir
duas cidades
este texto não
pretende
unir cidades é uma soma
democrática
unir dois povos é multiplicar
riqueza
unir dois indivíduos uma livre
subtracção.
diluir.
a vista não alcança o conteúdo.
não é exercício de ilusionismo.
é mágico.




eu perpetuo o movimento iniciado na antiguidade, ligando-o ao meu contemporâneo ainda por nascer.


quando eu morrer, não morrerás no meu olhar. em vida canto quem és, e assim, quando subtraído do mundo, manter-te-às intocável, sem dono. sem dano.
porque és, dispensas adjectivos.



"Na realidade, nada sabemos; pois a verdade está no fundo."


- Anaxágoras - Séc. V a.C.


o fragmentário como pista para o Absoluto


sexta-feira, 5 de março de 2010

Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como os amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca



- Mário Cesariny -

estar inteiro no momento é perpetuá-lo sem tempo.

desde o primeiro olhar, tudo é inundado pelo outro.
o momento é a união dos olhares no presente.
o momento é ver o mesmo.
o momento é sem tempo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Mahler o Obscuro


gesto - acção individual em relação ao outro.

movimento - acumulação activa e distribuição sem alvo, objectivo, consciência ou desejo.


dependente da imagem. não conseguir escapar dela. do dia activo à noite onírica, tudo é escape ao silêncio da treva, da não-imagem.

dissipadas as imagens exteriores restam as interiores, o indivíduo que as possui.
quando eliminadas as interiores, surge nada.
não ter, não desejar.
temer o nada, esta é a raiz da ilusão.
o gesto aniquila o gesticular.
movimento anula o gesto.


mais que um lugar ou acção, a palavra é o ambiente ideal onde vivem camuflados os fantasmas
















a maior prova da nossa íntima ligação é que "sinto a tua ausência"






quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010


Os ignorantes são impossíveis de satisfazer




sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010


Não me esquecerei da tua palavra.




terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

it's alright to want more than this

estar só tem que ver com: ter quase sempre alguém por perto quando é preciso, quase nunca ter alguém por perto quando é desejado. o processo decorre: tomada de consciência do eu, do único. não sobram registos, o que me entristece. é um processo de leitura, não de escrita. a leitura abre o que a escrita encerra. a caminho de qualquer parte surge a sensação de isolamento, do sempre estar a sós com as coisas mais importantes - eu e a minha crescente felicidade, eu e a minha desolação por isto e por aquilo. a necessidade de consolo é impossível de satisfazer mas não é impossível de desaparecer, enquanto necessidade. todo o consolo vem armadilhado. a escrita de franny tem que ser do género diarístico - pessoal, na busca, na espera, no exercício. ainda não é isto.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

É então que um grande silêncio cai sobre os trinta quilómetros da ilha. Ou vem das coisas, do interior das coisas. É um silêncio extremamente doce, um equilíbrio supremo. A ilha adquire uma grave e grandiosa imobilidade. E a luz entra e sai pelas coisas, como se elas fossem esponjas. As mãos ficam muito nuas. É dos olhos que primeiro desaparece o sono. E da boca. De cada parte do corpo, lentamente, de todas as partes, até que as pessoas se abram totalmente. Como numa ressurreição.


- Herberto Herberto -

sábado, 2 de janeiro de 2010

o que pretendo dizer com silêncio

a criação como movimento interior que transborda


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

é preciso

olhar o mundo a partir da raiz do quotidiano.

a erosão não é um eros muito grande

(dizer que te amo é dizer que estou disponível para te amar esperando que os dias e os meses mudem o sentido definitivo da palavra)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

vim sentar-me para escrever

a mãe equilibrava o amor
avaliando o risco
de afogamento
quando mudamos de casa dizem-me
são seiscentos quilómetros
dez horas de viagem
*
na cidade vai nevando
sou feliz não há mar estou sentada
a minha mãe
*
sei que
ninguém morre para que ninguém tenha de escolher

não sei se te lembras disto

Há uma história de um gato e um rato que tiveram um filho. Do desastre que se lhe seguiu nasceu uma criança. O rato, fugiu. O gato saiu à caça. A criança foi a única que não pôde fazer nada.
Há um animal que se chama ónagro. Também pode ter filhos.
O meu avô era marinheiro. Morreu debaixo de um comboio.
A minha avó criou a minha mãe debaixo dos carris que lhe arruinaram a graça, que é como quem diz, pancadaria subterrânea.
Não sei como é que a história avançou até ao voo do meu perfume que
de rajada
se estilhaçou na parede.
[é o ponto de partida]

vim sentar-me para escrever

ouve, posso comprar qualquer outra coisa que te faça falta
maçãs e regressar
desejando claro que o dia te seja limpo e tempo de preparação: 5 minutos
grau de dificuldade: muito baixo pequeno-almoço na sala
título no canto, ao guardanapo:

uma boa escritora querendo ser uma bela escritora

que não se atira
que não se suja
que não se coloca no meio do texto
[é preciso, antes de mais, encontrar como primeiro destinatário o próprio poeta, que este seja belo ou não, que não faça diferença, que se dane a sintaxe, o leitor, o crítico, o avaliador; se eu sou o poeta, que não sou belo, que não sou bom, que se dane eu. é preciso, logo de seguida, nem sequer duvidar.]

vim sentar-me para escrever

exercício número um: trabalhar o que já existe.

o primeiro verso era título de um livro
o poema começava pelo que faltava
no texto ou no poeta
pão
ou
uma boa escritora querendo ser uma bela escritora

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

quando é que o escritor ouve o tiro da partida?
quando é que sabe, durante a corrida, se está a caminho da meta?

sábado, 5 de dezembro de 2009

A única "responsabilidade", ir mais além



quando o texto te escreve. se inscreve. se instala. impele. assombra. quando te agarra e te atira contra o seu próprio corpo sólido. quando a caligrafia é o decalque do teu roteiro interior.
chegar a ti sem deixar pegadas.
não (te) voltes para trás.
trabalha o esquecimento.
sonha a árvore e devora avidamente o seu fruto.
deixa a última semente de realidade por comer.



quero construir uma casa comunitária.
mas como? quando dizes casa outro diz casa diferente.
é preciso ceder para o bem comum, dizes tu.
quero construir uma casa. cedo a cor (rosa, branca, azul), mas façamos uma casa confortável para todos que a nomeiam.
quando digo "confortável" não digo tapetezinho fofinho com dez centímetros de altura.
digo : toda a casa deve ter alicerces para não cair, telhado para abrigar.
construamos a partir daqui.



que assim comece

Senhor, dá a cada um a sua própria morte.
Uma morte saída dessa mesma vida
em que ele teve amor, miséria e sentido.
[Rilke]


acredito no movimento natural para além do pó.
o dar e receber não existe, abolida a posse.
o gesto nasce e transborda.
em sintonia usufruímos. e é tudo.




"As colheitas mais puras são semeadas num solo que não existe. Eliminam a gratidão e apenas são devedoras da Primavera."

-René Char-

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

se queres escrever porque não queres escrever?

se ousasse escrever também me escreveria

ocorre-me, antes de mais, a invocação de uma imagem: o corpo do texto, compacto, plástico.
estou a ler a besta de lascaux. fico a pensar no texto antes de ser texto: anterior e posterior à escrita. quero dizer - texto interior, desejo de texto, presságio do que será o texto. ["metatexto"?]
depois. o gesto, materializando o texto, ou fazendo-o jardim em letras de escrita, é um exercício: entro nele como aquele soldado que atravessa o território inimigo pensando que já morreu.
tento que a escrita percorra o essencial para que seja sempre futura. que o ímpeto presente concorra com a efervescência do que ainda não veio. como rené char: o poema é o amor realizado do desejo que permanece desejo. a escrita, sempre a vir, exposta sem garantias e sem certezas.
falo do que escrevo, partindo do que leio, porque acredito numa oração.

Se queres escrever, escreve-te.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009



deitado no colchão finito da morte, abres os olhos do sonho, és o sonho, respiras, vives a tua vida de sonho, onde não há separação. um momento é o momento------------------------ligação entre o que sentes, ouves, o que te torna uno. escrever para sair do circuito da escrita. ouve, não fales. mantém o fervor passivo da não acção.


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"Em explosões, tela por tela, a pintura chega à luz" - M. Duras



- Simon Hantai -


"Não sei o que é um livro. Ninguém sabe. Mas sabemos quando encontramos um. E quando não há nada sabêmo-lo como sabemos que existimos , que ainda não morremos."

Ama como se aprendesses tudo desde a morte

- Herberto Helder -

terça-feira, 17 de novembro de 2009

falamos para que a terra não morra



segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Ler: não escrever; escrever o que é proibido ler.
Escrever: recusar escrever - escrever seguindo a via da recusa.


- M Blanchot -

bartleby



copiar repetir copiar repetir copiar repetir copiar repetir copiar repetir copiar repetir copiar repetir copiar repetir absorver espremer esvaziar absorver espremer esvaziar passivo espremer esvaziar absorver espremer esvaziar passivo passivo espremer esvaziar absorver espremer esvaziar passivo espera paciente espera paciente espera paciente espera paciente paciente espera paciente espera paciente espera paciente


NOITE BRANCA




como um segredo. pronunciar o que não pode ser dito.
dois caminhos para manter o segredo puro.
não o contar ( irrepetível ) ; repeti-lo para além do limite da loucura, tornando-o assim irreconhecível (copiar).





Um homem vive uma profunda eternidade que se fecha
sobre ele, mas onde o corpo
arde para além de qualquer símbolo, sem alma e puro
como um sacrifício antigo


- Herberto Helder -


escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer escrever copiar ler reler recitar esquecer
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Solidão brilhante, o vazio do céu, morte diferida: desastre



- M Blanchot -



Fragmentação



intuição do nada, a espera


Ananias e Safira



a mentira e a posse

Porque a pobreza é um grande brilho interior



-"Livro de Horas" - Rilke



Nas cartas de Etty um poema de Rilke



Que farás tu, Senhor, quando eu morrer?
Sou o teu cântaro ( quando quebrar?)
Sou a tua bebida (quando azedar?)
Sou o teu manto, o teu ofício,
Comigo, não tens sentido"

Equilíbrio



Perceber que a palavra é criadora e destruidora de mundos.
E que apesar disso é só palavra.




Comer mastigar para que cada partícula faça proveito ao corpo andar pausadamente tornar cada tarefa útil e consciente de modo a viver fora de tempo ler tudo reler no dia seguinte ler com frescura o dia virgem momento limpo jejuar a cada momento a sua pureza ser constante ler no exterior escutar interior falar menos não falar em vão não escutar em vão tornar o gesto mais banal num canto sagrado desde o respirar ao adorar do pestanejar ao orar do amar ao afastar tudo fruto do pulsar sagrado movimento liberal não aceitar não recusar ser gentil e confortável/confortante cumprir toda a tarefa com nobreza


Soberania é nada



- Georges Bataille -


o ter confiança no desastre.
certeza que o texto, activo na sua imobilidade
alcance o seu leitor.
o princípio da escrita
a exposição
o reencontro.
fragmentação é reencontro.
retornar onde nada existe.


Escrever um texto
e deixá-lo abandonado na página.

Não voltar a lê-lo,
não o mostrar a ninguém,
não o mandar a nenhum lado.
Que fique no seu repouso de texto.

E deixar que aí encontre o seu leitor,
como todos os textos o encontram.

Também o que levamos escrito dentro
e nos parece impossível que alguém possa ler.


- Roberto Juarroz -


Eu ofereço a palavra, de modo a que se precipite, retornando à sua nulidade.


- Mallarmé -




No desastre desapareço sem morrer ( ou morro sem desaparecer).


- M Blanchot -




a espera sem objecto, elimina o tempo


Homenagem e fome




(Era de noite. Tinhamo-nos abraçado debaixo do grande carvalho de lágrimas. O grilo cantou. Como sabia ele, solitário, que a terra não ia morrer, que nós, os filhos sem claridade, iríamos em breve falar?)


- René Char -


sábado, 14 de novembro de 2009



"Faz-me lembrar o cão Jade, que é ao mesmo tempo um corredor e um meditativo.
Quando corre, seu corpo veloz espelha a sua meditação.
Quando repousa, corre sobre suas patas dobradas."


- Maria Gabriela Llansol -


Intoxication has the weakness of giving us a feeling of strenght.

- Nietzsche -


Great is hungering



- Jacques Doucet -


To save a text from its book misfortune.

- Levinas -




na antiguidade, o acto extraordinário não é intemporal pois a expressão define o que resiste ao apagar do tempo.
o acto extraordinário moderno anula o tempo, estende-se sem tempo.
eterno presente.
o fim é construir; não existe edifício, existe apenas o edificar.
o tempo é a medida da morte.


Calm, always calmer, the undesirable calm"

- Maurice Blanchot -




retirar-me do tempo
torna-me presente


quarta-feira, 11 de novembro de 2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Branco é o instante*



- Sr Hölderlin -

Tudo o que encontro já me foi dito por outro senhor

"Talvez a santidade, a partir do advento do moderno, tenha encontrado refúgio (asilo) na arte: no acto da arte."

- Pasolini -

sábado, 7 de novembro de 2009

Estudo do objecto



tens agora
um espaço vazio
mais belo que o objecto
mais belo que o lugar que ele deixa
é um ante-mundo
o paraíso branco
de todas as possibilidades
podes entrar
e gritar
vertical-horizontal

um relâmpago perpendicular
fende o céu nú

podemos ficar por aí
de qualquer forma já criaste um mundo


- Zbigniew Herbert -

Un Vent Noir

A velocidade assusta

Todas as mudanças de importância durável se realizam com lentidão.


- Maria Gabriela Llansol -
The reaction of the labor of the mind upon the mind itself is so important that very often it deserves to be considered longer, more attentively than the labor or the product of that labor. The benefection...or the malefaction of this reactions is very frequentely more important than the leterary work itself. The byproduct is thus more important than the product. The efford expended by the poet and the poem interest me less than the subtleties and the enlightment acquired during the effort. And that is why one must labor over oneself. the poem will be for the others, that is, for the superficial quality, the initial shock, the effect, the expenditure, while the effort will be for myself- that is, for the duration, the continuation the profit, the progress...


- Paul Valéry -
Existe a questão, mas não desejo de resposta; existe a questão, e nada que pode ser dito, mas justamente esse nada para dizer.


- Maurice Blanchot -


Os três sabiam disso.
Ela era a companheira de Kafka.
Kafka a sonhara.
Os três sabiam disso.
Ele era o amigo de Kafka.
Kafka o sonhara.
Os três sabiam disso.
A mulher disse ao amigo:
"Quero que esta noite me queiras."
O homem lhe respondeu: Se pecarmos,
Kafka deixará de sonhar-nos.
Alguém soube disso.
Não havia mais ninguém na terra. Kafka disse a si mesmo.
Agora que os dois partiram, fiquei sozinho.
Deixarei de sonhar-me.


- Jorge Luís Borges -
Accumule, puis distribue. Sois la partie du miroir de l'univers la plus dense, la plus utile et la moins apparente.


- René Char -

Esculpir



"O que mais desejo é uma grande economia de palavras"

- Maria Gabriela Llansol -


Uma criança no colo da sua mãe boceja na minha direcção.
Leve o seu ar ainda tão cheio de centro.
Dada a importância da leveza deste gesto, pergunto:

Quem carrega quem?


IMPORTANTE

Ser como a árvore que assim que plantada começa a cumprir o seu destino de casa
"Le Subissement" - passividade fervorosa

Anotações

IMPORTANTE

Viver no ângulo - in angulo - do mundo

sexta-feira, 8 de maio de 2009


o corpo da palavra é um campo aberto e fértil
por vezes uma palavra vibrante
multiplicada pelo seu silêncio,
equivale a um gesto

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ascender pelo som

Da palavra à pele


"Quando a palavra virar corpo
e o corpo abrir a boca
e disser a palavra
que o criou-
abraçarei esse corpo
e deitar-me-ei ao seu lado."

-Lição de hebraico nº 5- "Em carne viva" - David Grossman

segunda-feira, 27 de abril de 2009

BEIRA- MAR - MEIO- DIA

"na duração do dia o corpo desfaz-se à entrada do mar"

"Quando escreve descalça-se" - Miguel-Manso

Como uma surpresa de Veludo

Variação Vinyoli

"Por que razão haveria de abrir os olhos,
se o que me rodeia já está dentro de mim.

Em vão perco o que em vão procuro.
Olhando sem olhar,
tocando sem tocar, ouvindo
sem que até mim chegue já som algum,
imóvel,
igual a uma pedra.

Pouco a pouco,
o oculto e o visível transformam-se num só
como o rio
e a sua sombra.

(E o silêncio
é escutar o coração de um anjo.)

Ponho à prova o presente:
o seu ponto de chegada sem chegada.

Pergunto-me quem sou,
quem és,
quem somos.

De pé , em frente ao abismo do silêncio,
começa outra noite."

- "Caixa Negra" - Josep M Rodríguez

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Vida Secreta

Esta é a capa de uma edição francesa da "Vida Secreta" de Pascal Quignard.
Mas nem esta imagem vale pelas mil palavras do Sr Quignard

terça-feira, 19 de agosto de 2008

do grande silêncio


"Queria escrever somente palavras organicamente inseridas num grande silêncio, daquelas cuja única utilidade é dominar o silêncio e rasgá-lo.

Se algum dia chegar a escrever gostaria então de pincelar algumas palavras num fundo mudo.

O importante será a relação justa entre palavras e silêncio.

As palavras deveriam servir para somente para dar forma e delineação ao silêncio.

E cada palavra é como um pequeno marco ou um pequeno relevo ao longo de infindáveis caminhos planos e extensos, e vastas planícies."
- "Diário 1941-1943"- Etty Hillesum

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Sr Walser do outro lado do espelho

Han Shan


Sobre a alta e inóspita montanha de
pedra
Encontrei meu lar.
Apenas os pássaros são encontrados neste caminho escarpado,
Os rastros das pessoas terminam aqui.
O que existe fora da minha cabana?
Nuvens brancas rodeiam as rochas
calmas.
Uma vida bela.
Ano após ano,
experiencio a mudança
De primavera a inverno.
Encontra-se para palestras
No salão principal.
A fama falsa certamente não é útil.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Acção sem movimento

" A cena onde toda a cena tem origem no invisível sem
linguagem é uma actualidade incessantemente activa "
- "Sombras Errantes"- Pascal Quignard

Um presente ( those were the days)


Miles & Herbie

O que realmente interessa

Desejo de Absoluto ou...

Three steps to ascension

Aknowledgement - Ibn' Arabi

Resolution - Rothko

Pursuance / Psalm -Coltrane

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

sobre as perguntas como presságio

O ano passado questionavas-me sobre a idade em que as pessoas à nossa volta começariam a morrer... Lamento dizê-lo...mas já tenho resposta para ti... 29.

Como que nascida e abandonada por Afrodite...

sábado, 2 de agosto de 2008

Último reduto

chego.
estou atrasado.
abro a porta, ponho o caixote para dentro, desço os dois degraus.
corro para o primeiro andar.
pego na loiça suja, desço as escadas, ponho a loiça na máquina.
passo a esfregona no chão.
arrumo os livros que tinham resistido a noite passada.
telefono.
falo.
digo piadas.
faço a caixa.
"não pares".
é preciso não parar.
tudo estava a correr bem.
vejo um comentário no blog e as pernas começam a perder as forças.
"sem plavras"
sigo os passos do comentário.
confirmo.
a morte está por todo o lado.
dou por mim sentado no chão.
cabeça suspensa.
já não consigo continuar.
esta semana, de uma forma atarefada,
próximos foram recolhidos.
de um único golpe de tempo.
e os meus braços vazios de um abraço.

Já não consigo viver sem

ANA, ONDE ESTÁ O CD??!?

Como sou amigo estou já a avisar com a devida antecedência...



...este vai ser o melhor concerto do jazz em Agosto 2008.

da música no teatro



1 de Agosto - Uma coisa em forma de assim

2 de Agosto – Groove Quartet

5 de Agosto - Baruk

6 de Agosto - Moi Non Plus

7 de Agosto – FunkOffAndFly

8 de Agosto - Jon Luz

9 de Agosto – Funky Touch

12 de Agosto - Marta Plantier e Luís Barrigas em “Free "Fucking" Notes”

13 de Agosto – Trio Bárbara Lagido

14 de Agosto - Funky Touch

15 de Agosto – YemanJazz

16 de Agosto – Open Source

P/Todos Entrada Livre

Mais um poeta (quase) esquecido

The lake wore rouge

made from the inherited light
of the dying sun

this is how the red passes

de que falamos quando falamos do poema preferido de Raymond Carver

da arte como mistério da (re)criação

"Ensinam-nos que as primeiras crianças nascem da terra
e só depois surge o amor. Não sei se será verdade, porque
antes de nascerem as crianças nasce a terra e essa transporta
em si o amor que faz gerar todas as crianças. E não é
simples explicar isso, como se geram as crianças e o próprio
amor, muito singular em cada uma delas; o pensar
a génese, onde o brilhar dos astros se confunde com os
pequenos olhos de pérola escondidos na confusão da pele
e a questão se a carne virá do calor. Não sabemos. Mas para
explicar o amor usamos o verbo e esperamos que as palavras
se diluam um pouco dentro da carne dentro da terra. E hoje
ensinam- nos que a morte sai da terra e simetricamente o corpo
percorre o espaço até sentir que o verbo se esgota. E assim
sabemos tudo o que as palavras nos podem dizer sobre o
amor."

- Hugo Milhanas Machado -

A fotografia como momento de luz nas trevas

Uma pequena lâmpada eslovena para iluminar o mundo

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Nada a fazer

Não bastou uma vida de paz.
Um fim amargo.
Busca incessante.
Segunda morada de paz.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

E o que hei-de amar senão o enigma?

DO I CONTRADICT MYSELF?...


"...YES. I AM MANY."

Ode a Virilio

"S'insurgeant contre le fantasme de la demócratie virtuelle, il lance un véritable appel à la resistance. Il réfléchit à haute voix sur les conséquences morales, politiques, et culturelles de l'accélération du temps mondial, le cybermonde."

da (a)literatura

- a literatura não existe como desbloqueador de conversa
- a literatura não existe para se pertencer a um grupo
- a literatura não existe como vaidade autista
- a literatura não substitui a vida ( mas existe como vida)
- a literatura não existe neste blogue
- a literatura existe
- a literatura não existe

terça-feira, 29 de julho de 2008

Decisão




Depois das entrevistas do Sr Luiz Pacheco segue-se um livro que há muito me está a namorar.
"Diário 1941-1943"- Etty Hillesum.
Li algumas partes.
Única palavra que me vem à cabeça: LUZ.

A Espera

Na mão direita uma surpresa.
A distração era tão harmoniosa que era sempre no último instante que evitávamos esbarrar contra o outro.
E era nesse segundo que espreitava a capa do livro.
E reconhecia-o.
Se me perguntassem como ele era, não saberia responder. Pelo menos dar aqueles traços gerais. Não existiam traços gerais.
Só um conjunto de pormenores que o tornavam impossível de reconhecer por outras pessoas.
Vejo um corpo franzino sustentado por duas vincadas patilhas; como duas molas de roupa mantinham a sua postura erecta mas sempre instável.
Uma espécie de Corto Maltese em que cada página é um passo, e o seu destino não ia além do próximo passo.
Por vezes encontrava-o nas arcadas a olhar o horizonte, e o horizonte não era mais que o prédio em frente. Os seus olhos não tinham fundo.
Então começámos a trocar cumprimentos discretos e aos poucos fomos falando.
Uma manhã a sua cabeça baixa foi o suficiente para o abordar.
Perguntei o que se passava.
-" Estou à espera."
Sabia o que esperava mas não o nomeava.
Dissse que normalmente a ausência não se fazia sentir com tanta intensidade, nem por tanto tempo.
Insuportável.
Só pedia um momento, por muito breve que fosse, mas novamente.
Esperava com paciência mas dorido, em sofrimento.
E a ausência nele, encheu-me.
Afastei-me.
O seu entregue ao seu momento.

Verde Paraíso

Estranha que fui
Quando vizinha de distantes luzes
Entesourava palavras muito puras
para criar novos silêncios

-Alejandra Pizarnik

segunda-feira, 28 de julho de 2008